quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Ano Novo - O Lobo Frontal também pode ir ao ginásio!

Não sou particularmente apreciadora desta quadra festiva em si, embora adore bolo-rei e outras coisas boas que só se comem no Natal mas terminado o Natal, acabo sempre por ficar com um sentimento de esperança e alegria...

É que parece que o Natal e o Ano Novo vêm fechar um ciclo e, portanto, nesta altura podemos ter a esperança de que ao fechar um ciclo  vamos abrir outro. Acabo por sentir tudo como uma fase de renovação, como se ficasse pronta para nascer de novo!

Esta ideia de renovação chega logo com o Solstício de Inverno pois a seguir a ele começam novamente os dias a aumentar. Ou seja, chegada a maior noite do ano, começamos a caminhar outra vez para dias com mais horas de luz solar. Só este pormenor faz-me logo sentir que a Natureza está a contribuir para os nosso desejos de mudança.

Parece que nestes dias entre o Natal e o Ano Novo andamos  a incubar as mudanças que vamos querer fazer. Como se fosse uma semana para inspirar fundo, fundo, muito, muito ar para depois no Ano Novo estarmos cheios de fôlego para novos projectos, novos amores, novas amizades, novas conquistas e realizações!

Quem não anda na azáfama mental de fazer projectos? O que quero mudar? O que vou fazer de diferente?

Há até quem escreva os seus planos e decisões para o novo ano, sejam muitos ou poucos. Quando ficam escritos é como se se tornassem oficiais e, se não escapam do papel também já não fugimos de os colocar em prática.

E é mesmo isso, se tivesse que escolher palavras para esta época do ano, estas seriam: esperança, renovação, projectos e audácia!

Em geral, são dias em que nos permitimos sentir audazes, empreendedores, cheios de energia, de motivação e de imaginação. Começamos por fazer um balanço do ano e, inevitavelmente, acabamos por nos dedicar mais à planificação do próximo ano do que à avaliação deste. E ainda bem que assim é!

E mesmo quando nos dizem: “Não adianta fazer planos de ano novo porque dos planos que fiz o ano passado não pus nada em prática”, isso não nos interessa lá muito, agora é “outro” ano, já não é do ano passado que se trata.

Não é por acaso que o que nos distingue dos outros animais é o facto de sermos dotados de lobo frontal. Esta fantástica parte que a Natureza resolveu acrescentar ao nosso cérebro torna-nos capazes de nos projectarmos no futuro e fazer planos. Este sim, foi um verdadeiro presente, um dos melhores.

Esta dádiva chamada capacidade de se projectar no futuro permite ao ser humano desenvolver-se no sentido de fazer mais e melhor da próxima vez, usando o que aprendeu para conceber melhores estratégias para os seus projectos futuros.

A proximidade do Ano Novo é uma época por excelência para exercitarmos o nosso lobo frontal, o cérebro agradece e de certeza que o Mundo também.

Por isso, nestes dias que restam, aproveite para por o lobo frontal no ginásio e só o deixe sair de lá quando já estiver bem musculado!

Desejo-lhe um fim de ano com muitos e bons projectos e um novo ano cheio de realizações!

Vera Martins

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Como desfrutar do Natal mesmo para quem o detesta


O Natal é uma festa para todos os gostos: para os que gostam muito, pouco e para os que não gostam nada e nem pouco mais ou menos!


Existem variadíssimas razões para todos os casos, mas com ele à porta o mais importante não é esgrimir razões, é mesmo abrir o leque de alternativas para que o Natal possa ser desfrutado por quem gosta e até por quem não gosta.

É que ano após ano, venho sentindo que mesmo quem gosta do Natal muitas vezes usufrui pouco da data em si. Não há altura do ano em que veja as pessoas mais stressadas e cansadas do que no Natal.

Quando se fala em Natal, fala-se dos stress das prendas, dos sucessivos jantares e almoços (de trabalho, de amigos, de afilhados,de primos, de..., de...),, da canseira das horas passadas na cozinha, do trânsito que fica infernal, etc, etc, todos conhecemos estes cenários.

O que acontece muitas vezes é que entre o stress do “antes” e do “depois”, escapa-nos o “durante”. É que o momento presente pode ser o verdadeiro presente de Natal. E há coisas que podem ser agradáveis até mesmo para quem não gosta do Natal. Sejamos honestos, mesmo quem não gosta desta época, acaba sempre por “levar” com ela de qualquer forma, tal é a força da cultura e dos hábitos de um povo.

Então, já que ficamos todos submersos por esta época, a ideia é que quem gosta possa desfrutar melhor dela e que quem não gosta possa passar menos mal e, porque não, com alguma satisfação, já que não há grande  escapatória.

Se olharmos para o Natal de forma mais objectiva o que temos?

Música - É uma forma de expressão e de arte apreciada pela maioria das pessoas. Se assim é e a apreciamos todo o ano, aproveitemos esta altura para viver a música, deixarmo-nos embalar e encantar. Cante, encante e dance para que estes dias sejam mais melodiosos!

Luz e Cor - Quem não gosta de ver coisas iluminadas, coloridas e a brilhar? Aprecie as luzes nesta altura, repare bem,  beba luzes e cores e deixe-se enfeitiçar pela magia de ver tudo mais brilhante pelo menos uma vez no ano!

Comidas apetitosas - hum... comer coisas boas, daquelas que nos fazem crescer água na boca é sempre uma delícia. Se não gosta das gulodices próprias do Natal, coma outras, faça a sua ementa e saboreie. É sempre boa altura para nos deliciarmos com coisas que adoramos mas não comemos todos os dias. Aproveite então para, sem pressas e sem excessos, adoçar a boca e temperar a alma com coisas deliciosa!

Afecto - E de sorrisos, miminhos, palavras simpáticas e uma boa conversa, há alguém que não goste? Procure disfrutar nesta altura da companhia das pessoas que mais ama, daquelas com quem gosta mesmo de conversar (nem que seja por telefone), daquelas que se calhar só vê mesmo uma vez por ano e passa os meses a sentir saudades... Nesta data aproveite para dar e receber afecto, partilhar, trocar, mimar e mimar-se! Muito!!!

E então, tudo trocado em miúdos, talvez possamos usufruir um pouco melhor destes dias de Natal. Mesmo não gostando da festa em si, temos dois dias sem trabalhar durante os quais podemos fazer coisas boas, que nos façam sorrir, vibrar e que nos aqueçam a alma!

Vamos lá passar dois dias simpáticos e a desfrutar o melhor da vida?

Vera Martins

domingo, 18 de dezembro de 2011

Três lições valiosas que aprendi com o meu cão

Quando era miúda tive um cão com quem aprendi muito! A sua inteligência, sensibilidade e dedicação continuam a emocionar-me 30 anos depois e acredito que guardarei as suas lições de partilha e afecto até ao fim da minha vida.

O meu Bamby vivia connosco já há uns tempos, quando apareceram no nosso quintal dois gatinhos bebés (mesmo muito bebés). Como a mãe destes dois meninos nunca apareceu foram ficando e fomos cuidando deles. No entanto, o membro da família que mais se dedicou e melhor cuidou dos “seus bebés” foi mesmo o Bamby! Rapidamente percebemos que o Bamby se deitava de lado com toda a tranquilidade para os gatinhos mamarem nas suas tetas!

E acreditem que não estou a fazer confusão, era mesmo um cão que tentava proporcionar uma experiência maternal e afectiva a estes dois gatinhos bebés. Com a naturalidade de quem tinha feito isto toda a vida, o Bamby lá se deitava e ali permanecia com calma enquanto os dois bebés se aninhavam na sua barriga, procuravam as suas tetas minúsculas de cão e chuchavam, sonhando com a teta da sua mãe gata que haviam perdido!

Quando olho para trás e me lembro destas imagens que trago comigo até hoje, dou conta das lições que recebi deste cão maravilhoso, deste companheiro de aventuras e emoções!

Com o meu cão aprendi que:

-  Não há limites para o afecto - Podemos dar e receber afecto independentemente da idade, do sexo, da raça ou, até mesmo, da espécie. O afecto é reparador de relações e crises, além de ser um importante promotor de crescimento e desenvolvimento.

- Não há limites para a generosidade - Na maioria das vezes é  suficiente darmos o que temos desde que o façamos com generosidade genuína. Não é necessário dar a Lua para fazermos os outros felizes, às vezes o pouco que temos para dar pode transformar vidas e representar muito para os outros. Não devemos inibir gestos de generosidade sob pena de perdermos oportunidades de contribuir para grandes mudanças.

- Todos saem a ganhar quando aceitamos as diferenças - mais uma vez, independentemente da idade, do sexo, da espécie ou da raça, as diferenças são enriquecedoras e têm o poder de promover relações sólidas, de boa qualidade,  aproveitando e multiplicando as qualidades de todos.

Fico a pensar nas capacidades inquestionáveis dos nossos amigos de quatro patas e de como todos temos a aprender com todos. Não tenho dúvidas de que partilhar a vida com os que são diferentes de nós (animais ou humanos) enriquece a existência, promove a felicidade e torna tudo muito mais fácil!

Ainda tem dúvidas de que o afecto move montanhas e é o melhor antídoto contra a crise?

Vera Martins
www.veramartins-psicologia.com

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Sobre as dádivas e o acto de dar

Nesta altura em que o Natal se aproxima a passos largos muito se fala em dar: “Não sei o que vou dar aos meus pais”; “Não vale a pena dar prendas inúteis”; “Gosto muito de dar.”, etc.

E porque este ano a época é especialmente complicada em termos financeiros também ouvimos dizer “Este ano não posso dar prendas a ninguém”.

Fico a pensar nas nossas imensas questões sobre este acto de dar e as inúmeras dúvidas e considerações sobre as dádivas em si. Sabemos bem que as dádivas são extremamente relativas. E são relativas na importância que lhes atribui quem as recebe e quem as oferece. São relativas na necessidade, no preço, no tamanho e na sua (i)materialidade.

É que as dádivas podem não ser materiais e não significa por isso que sejam menos importantes ou menos satisfatórias para quem as recebe.

A música é um excelente exemplo de dádiva imaterial. Podemos por exemplo lembrar-nos dos filmes muito românticos em que um homem apaixonado presenteia a sua amada com uma serenata! Seja tocada e cantada por si próprio ou por outros, uma serenata é um exemplo de dádiva imaterial. E temos também o exemplo tão Português e tão falado ultimamente do Fado como Património Imaterial da Humanidade que afinal de contas é a nossa dádiva à humanidade!

E para além da música, existem mais dádivas imateriais. Daquelas que levamos dentro de nós e que, sem lhes tocar, ficamos tocados por elas, às vezes, uma vida inteira. Como por exemplo um poema belo e cheio de significado que é recitado por alguém ou mesmo um história que contamos a uma criança na hora de dormir para a confortar e ajudar a ter sonhos cor-de-rosa.

E há ainda outras dádivas imateriais. Há uns anos aprendi com uma colega uma dinâmica de grupo que foi baptizada como “Dádivas mentais”. Esta dinâmica consiste precisamente em trocar este tipo de dádivas. As regras são simples: Só valem dádivas mentais e todos os membros do grupo devem dar e receber.

Não imaginam o poder que as dádivas mentais podem ter. O tal poder de tocar alguém e marcar momentos profundos de encontro genuíno. É importante que as pessoas se conheçam minimamente para poderem sentir o que o outro precisa. E assim, nesta troca de dádivas mentais é possível dar ‘coragem’ a alguém que enfrente um desafio, é possível receber de outro a ‘força’ que necessita para terminar uma tarefa, também é possível dar ‘clareza’ para ver melhor uma determinada situação ou mesmo ‘lucidez’ para tomar uma decisão difícil.

Na verdade, as dádivas mentais permitem uma partilha de experiências e emoções que é extremamente enriquecedora para quem recebe mas também para quem dá. Quando uso esta dinâmica de grupo, as pessoas acabam por sentir que ao dar estão simultaneamente a receber. E todo o grupo sente que não só dá e recebe mas sobretudo que, ao escolher de forma personalizada e explicar as dádivas que o outro precisa, há um efeito de multiplicação do seu sentido e do seu potencial efeito.

Através deste exemplo podemos sentir a importância e o poder das relações com os outros. A partilha de emoções, a capacidade de dar e receber, a troca de experiências, o sentimento de pertença e de ser compreendido são pilares essenciais para o nosso bem-estar e a nossa saúde mental.

E não será esta a verdadeira essência de uma dádiva? Partilhar, trocar, multiplicar, emocionar, compreender e ser compreendido...

Os presentes materiais têm concerteza o seu papel e importância na nossa vida, mas também é bom lembrar que há outros presentes que, na sua imaterialidade, tornam também a vida mais colorida e doce.

E que o Natal pode também ser abrilhantado e aquecido com presentes que não precisamos de desembrulhar e que não podemos ver ou tocar mas que nos tocam com toda a sua força, emoção e intensidade.

Vera Martins
www.veramartins-psicologia.com





domingo, 4 de dezembro de 2011

O que poderia ser aquela nuvem?

Há dias estive a contemplar as nuvens. Num daqueles dias em que não choveu mas elas lá andavam pelo céu: fofas, altas e branquinhas.

E lembrei-me de quando era miúda e ficava a adivinhar princesas, castelos, bailarinas, pássaros e árvores nas nuvens que pairavam acima do meu mundo de criança. Um mundo ainda sem grandes preocupações, sem crises, nem política, nem doenças graves, nem outros males e aflições que povoam a vida dos adultos.

E estão os leitores a pensar, e muito bem, que eu não era lá muito original porque, afinal de contas, brincar com as nuvens é entretém habitual de todas as crianças. E, de facto, eu não era muito original, era como as outras crianças que são dotadas de enorme criatividade para brincar, não só com as nuvens mas também com as suas percepções dos objectos e do mundo em geral.

Quando somos crianças uma garrafa pode ser um carro, uma pessoa, um comboio, um avião, servir de apito, de bola, de rolo da massa... E assim vamos vivendo e aprendendo a usar a imaginação e a percepção a nosso favor.

Mas depois há uma fase em que isto começa a mudar... Começamos a perder este à vontade de fazer com as nossas coisas e a nossa vida o que queremos, começamos a usar menos a imaginação a nosso favor e uma nuvem passa a ser só uma nuvem, uma garrafa de água passar a ser só uma garrafa de água...

Nesta nossa nova vida de seres adultos, sérios e preocupados passamos a viver muito mais no concreto, as nossas percepções tendem a ficar mais rígidas e damos muito menos espaço à imaginação.

Bem, e é assim que a crise passa a ser apenas a crise, os problemas de trabalho são apenas problemas, o desemprego é só o desemprego, etc, etc...

Para onde terá ido a nossa capacidade de aprender com o que não temos, reinventar o que temos e criar o que nos faz falta?

Quando temos problemas para resolver costumamos dizer que andamos com nuvens negras a pairar por cima da cabeça. Será que não podemos resgatar as qualidades magníficas da infância e reinterpretar estas nuvens negras?

Os problemas serão só problemas? Podem ser uma oportunidade para algo de novo e diferente? O que posso aprender? Se preciso de algo, o que posso criar para passar a ter o que me falta ou qualquer coisa que se aproxime?

Se eu olhar para a minha nuvem com a mente aberta de uma criança e permitir-me deixar que a minha percepção seja plástica e moldável em vez de ser rígida e fechada, o que poderei obter?

A nossa infância é o melhor estágio que fazemos para desempenharmos melhor o nosso papel de adultos. Mas temos tendência a esquecer-nos de como éramos tão capazes e audazes, do muito que fizemos e da pessoa tão competente que já éramos nessa altura. É certo que mudamos, crescemos, acumulamos muitas experiências que moldam a nossa personalidade, mas há competências que não se perdem... é como andar de bicicleta! Treinámos na infância, muitos de nós deixaram de o fazer, mas se tentarmos agora conseguimos!

Estou convicta de que seremos adultos mais felizes e saudáveis se relembrarmos as competências básicas deste treino de vida chamado infância. Podemos voltar a usar a nosso favor todas as competências que tão bem usámos e treinámos no passado: a imaginação, a criatividade, o sorriso, a flexibilidade para percepcionar o mundo e os outros, a disponibilidade para aprender e a liberdade para crescer.

Sim, sim, é que os adultos também crescem!

Vera Martins

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sobre a Inteligência Emocional

Muito se tem falado sobre Inteligência Emocional. Este conceito veio oferecer uma outra perspectiva para pensarmos as emoções e, sobretudo, considero que veio ajudar-nos a usá-las de outra forma. Se entendermos melhor o papel que as emoções desempenham na nossa vida e a forma como nos relacionamos com elas podemos usá-las mais a nosso favor em vez de nos deixarmos levar por elas de forma passiva.

As investigações mais recentes já nos permitem perceber que as emoções são decisivas para tomarmos decisões lógicas, como tão bem nos mostrou o neurocientista António Damásio. Outros estudos têm mostrado a importância das emoções para a nossa saúde, para o desempenho no trabalho, para a forma como nos relacionamos connosco próprio e com os outros, como planeamos o nosso futuro, etc.

No seu livro sobre Inteligência Emocional, Daniel Goleman usa um antigo conto japonês para ilustrar como as emoções podem guiar as nossas atitudes e penso que ajuda a mostrar a importância das emoções na nossa vida:

“Certo dia, um aguerrido samurai desafiou um mestre de zen a explicar-lhe os conceitos de Céu e Inferno. Mas o monge respondeu-lhe, trocista: «Não passas de um estúpido e eu não posso perder tempo com gente da tua laia!»

Ofendido na sua honra, o samurai encheu-se de raiva e, puxando da espada, gritou: «Podia matar-te pela tua impertinência!»

«Isto», replicou calmamente o monge, «é o Inferno».

Sobressaltado ao ver a verdade naquilo que o mestre lhe dizia a respeito da fúria que o dominava, o samurai acalmou-se, devolveu a espada à bainha e fez uma vénia, agradecendo ao monge aquela lição.

«E isso», disse o monge, «é o Céu».”
(Página 66)

Podemos andar umas vezes pelo Céu e outras vezes pelo Inferno das nossas emoções, isso caracteriza a (nossa) humanidade, o importante é termos consciência das emoções que nos guiam e, sobretudo, podermos gerir melhor as estrelas do nosso Céu e o calor do nosso Inferno!

Vera Martins

Referência: Inteligência Emocional, Daniel Goleman, 1997, Temas e Debates, Tradução de Mário Dias Correia.

sábado, 26 de novembro de 2011

Conversar com os nossos botões

O nosso diálogo interior é um hábito que nos acompanha quase em permanência. Mas por ser tão frequente e natural já quase nem damos por ele.

Conversar com os nossos botões pode ser extremamente construtivo e enriquecedor mas pode também destruir a nossa auto-confiança e a nossa eficácia para gerir as emoções e mesmo as nossas acções.

A linguagem que usamos quando falamos connosco próprios é poderosa e exerce o seu poder para o bem e para o mal. Temos uma espécie de casamento com os nossos botões, convivemos com eles “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença e até ao fim da nossa vida”!

Mas já que assim é, como podemos usar esta conversa a nosso favor? Como podemos ter uma convivência de enamoramento com os nossos botões?

Primeiro que tudo, precisamos de começar a reparar e, se for preciso, a anotar as coisas que dizemos quando falamos connosco próprios. Precisamos de estar mais à escuta destas conversas com os nossos botões para tomarmos consciência das coisas que vamos dizendo e do seu colorido.

À medida que vamos escutando de forma mais atenta é importante observar os conteúdos, que tipo de conteúdos se repetem, se encontramos padrões, como estes variam e que reacções provocam em nós.

Ficamos mais leves ou pesados? Mais sorridentes ou mais fechados? Mais seguros ou mais inseguros? Mais motivados para agir ou mais bloqueados?

Depois de conhecermos melhor estas conversas, o passo seguinte será perceber se precisamos de mudar o seu conteúdo, mantê-lo ou reforçá-lo.

Se os nossos diálogos interiores forem no sentido de contaminar o nosso bem estar e enfraquecer a nossa auto-confiança é urgente mudar para não deixarmos os nossos botões tristes, pálidos e quebradiços.

Assim, nestas conversas (e noutras!) é importante mudar os seguintes conteúdos:
“”Sou mesmo burro”; “Só faço porcaria”; “Nunca vou conseguir controlar isto”; “Sou sempre a mesma desgraça”

E como se muda?

Os nossos botões preferem conversas mais positivas e, sobretudo, mais construtivas, como por exemplo:
“Sou tão capaz como qualquer outra pessoa”; “Estou sempre a aprender”; Da próxima vez vou sair-me melhor”; “Sou boa pessoa”; “As minhas intenções eram as melhores”.

O importante é que a conversa seja realista mas positiva. Podemos e devemos usar as nossas experiências negativas a nosso favor. Lá diz o ditado “Quem nunca errou nunca fez nada” Todas as experiências podem ser aprendizagens e trampolins para fazermos sempre mais e melhor.

Caso o nosso diálogo interior seja positivo e construtivo há que mantê-lo e reforçá-lo porque os nossos botões gostam de mimos e sorrisos para ficarem fortes e coloridos!

E você, como é que anda a conversar com os seus botões?

Vera Martins
veramartins.psicologia@gmail.com

sábado, 19 de novembro de 2011

Em busca da auto-estima perdida

A auto-estima é um assunto sério, que tem grande impacto na nossa vida, nas nossas relações, no nosso bem-estar e saúde mental em geral. Como tal, é necessário cuidar dela com carinho e perseverança. Há alturas em que podemos começar a sentir a nossa auto-estima mais tremida, ficamos menos seguros das nossas capacidades e o nosso amor próprio parece andar perdido por parte incerta...

Nesses momentos, o que precisamos fazer é mesmo partir em busca da auto-estima perdida!

É bom relembrar de tempos a tempos como podemos providenciar estes cuidados a nós próprios para fazermos uma boa promoção e manutenção da auto-estima. Deixo aqui algumas dicas e cuidados que podem ser úteis e que cada pessoa deve adaptar de forma individualizada e de acordo com o que sente que resulta melhor no seu caso específico:

1 - Cuidado com as comparações - Comparar uma pessoa com outra, na maior parte das vezes, não tem qualquer utilidade e chega a ser bastante cruel e doloroso para a parte que fica do lado negativo da equação;

2 - Fique atento às relações (familiares, amizade, etc) nas quais tem mais obrigações que direitos, alguma coisa pode estar desequilibrada;

3 - Valorize as suas conquistas, realizações, pequenas ou grandes victórias - se for necessário anote-as num papel e leia todos os dias... só para lembrar!

4 - Oiça músicas alegres, que o contagiem de boa disposição.

5 - Mime-se! - Muito!

6 - Contemple coisas bonitas - Há formas mais simples e outras que exigem um pouco mais de esforço. Alguns exemplos, de acordo com os gostos, podem ser paisagens agradáveis, exposições de arte, fotografias bonitas, sites na internet, documentários sobre a natureza, etc. Quando nos sintonizamos com coisas bonitas e agradáveis torna-se mais fácil vermos também as nossas qualidades;

7 - Procure rodear-se de pessoas simpáticas, positivas e calorosas, aquelas que fazem comentários que nos colocam “p’ra cima” e nos fazem bem ao Ego;

8 - Mexa-se! - Caminhar, dançar, pedalar, etc. O exercício físico estimula a produção de endorfinas que nos fazem sentir bem, diminuindo o desconforto e até a dor.

9 - Apanhe Sol - Com conta, peso e medida e com a devida protecção, claro. O Sol tem um efeito muito benéfico no nosso humor e bem estar.

10 - Respire! - Com calma e profundamente!

11 - Sorria, ria, não tenha medo de soltar umas boas gargalhadas! - Quando nos divertimos sentimo-nos melhor, mais novos e mais bonitos!

12 - Arrume! - Qualquer coisa, dependendo da inspiração, do tempo e da necessidade. Não precisa de arrumar toda a casa. Pode ser apenas uma divisão da casa, uma secretária, uma estante ou uma gaveta. Arrumar proporciona uma sensação de organização e de controlo que nos faz sentir bem, eficazes e competentes.

13 - Lembre-se de quem é! - Isto é muito importante! Às vezes digo isto mesmo assim às pessoas que conheço bem e de quem gosto: “Estamos a falar de ti!”. Pode dizê-lo a si mesmo: “Então, estou a falar de mim!”. Se quiser contribuir para a auto-estima de alguém pode dizer isso também a outra pessoa. Já agora, poderá também partilhar as restantes dicas!

Na verdade, tratar da auto-estima é como tratar de uma planta, é preciso regá-la com regularidade, proporcionar-lhe luz suficiente, limpá-la e até falar com ela!

Vera Martins

veramartins.psicologia@gmail.com

sábado, 12 de novembro de 2011

Disse Probortunidade???

Sim, disse mesmo Probortunidade!

Nas minhas andanças pela internet em busca de sites sobre criatividade, encontrei esta palavra que achei fantástica!

Antes de mais, tenho que esclarecer que a tradução é minha. Em Português a palavra não existe mas neste momento de crise precisamos desta palavra e da atitude que lhe está subjacente.

O termo Probortunidade, da palavra original Inglesa “Probortunity”, surgiu devido à dificuldade em determinar a diferença entre um problema e uma oportunidade. Em geral, o uso da palavra problema traz consigo uma conotação negativa. E, como é fácil perceber, a palavra oportunidade, traz consigo uma conotação bastante mais positiva.

Felizmente houve alguém, com vocação para o equilíbrio, que resolveu juntar as duas numa só e criou a palavra Probortunidade. (Pode ver a explicação original em www.brainstorming.co.uk). E ainda bem que alguém nos lembra que nada nesta vida é só preto ou só branco, só doce ou só amargo. E que, pelo meio podemos ter muitas cores e sabores.

Ou seja, uma Probortunidade refere-se a qualquer coisa que queremos transformar e mudar para melhor. Pode ser a palavra que traduz a conhecida e desejada capacidade de “transformar um problema numa oportunidade”.

Pensando bem, um problema pode não ser muito diferente de uma oportunidade. Aquilo que sentimos é que é diferente. Assim, usamos “problema” quando sentimos uma situação como negativa e usamos “oportunidade” quando sentimos uma situação como positiva. A verdade é que acontece com frequência uma mesma situação ser considerada por uns um problema e por outros uma oportunidade. Mas, factualmente, a situação é a mesma.

Então se se trata de uma questão de percepção e avaliação da nossa parte, o que precisamos de fazer é precisamente interrogar a nossa percepção e a avaliação que fazemos de uma situação. E as nossas avaliações tendem a ser muito emocionais...

A ciência e a vida já nos mostram há muitos anos que as crises trazem grandes mudanças e permitem profundas reorganizações. Por isso mesmo, é importante não ignorar todas as Probortunidades que a vida nos oferece!

“Pensamento positivo é a forma como você PENSA um problema. Entusiasmo é a forma como você SENTE um problema. Os dois juntos determinam o que você FAZ com um problema”
Dale Canergie

Vera Martins

sábado, 5 de novembro de 2011

O que é a visualização e como se pratica?

A nossa imaginação é uma ferramenta muito poderosa e podemos usá-la a nosso favor embora, muitas vezes, a usemos contra nós ao visualizar cenários negros e catastróficos para o futuro. E quando fazemos isto sabemos bem que a imaginação consegue ser mais forte que a vontade.

Mas se a imaginação funciona tão bem e até é gratuita porque não usar esta fantástica ferramenta para nos ajudar a reduzir o stress, promovendo sensações de bem-estar e estados de relaxamento?

O que é: A visualização (Guided Imagery em Inglês) é uma técnica que usa a imaginação para criar cenários nos quais podemos sentir sensações agradáveis, proporcionando ao nosso corpo e à nossa mente estados reais de bem-estar.

Como funciona: A visualização  permite ao indivíduo exercer um controlo activo sobre o seu foco de atenção. Em geral, todas as pessoas têm esta capacidade pois a visualização, ao contrário do que a palavra indica em Português, não recorre apenas ao sentido da visão mas também aos outros sentidos. Todos nós já experimentámos a sensação de sonhar acordados, de falarmos sozinhos com os nossos botões, de recordarmos cenas de acontecimentos, etc. Todos estes exemplos ilustram a nossa capacidade de visualização.

Ou seja, a visualização resulta de impressões sensoriais que nós criamos com a ajuda da nossa imaginação. E podemos usá-las de forma consciente e intencional para relaxar o nosso corpo e diminuir os efeitos do stress. Os estudos feitos sobre a visualização mostram claramente que aquilo que imaginamos pode mesmo tornar-se real para o nosso corpo.

Efeitos e benefícios: Além de aumentar o bem-estar, tem mostrado eficácia no tratamento de perturbações relacionadas com o stress, a depressão e a ansiedade, em várias perturbações físicas como dores de cabeça, espasmos musculares,  na gestão da dor crónica e na redução da tensão arterial. Também é utilizada com sucesso  em doentes com cancro, na preparação dos doentes para as cirurgias e na preparação de atletas de competição.

Frequência: Alguns efeitos poderão sentir-se imediatamente e outros poderão necessitar de várias semanas de prática de visualização para se fazerem sentir. O ideal seria praticar diariamente, duas vezes por dia. No entanto, praticar qualquer coisa será melhor do que nada...

Mas então como podemos passar à prática?

No início é importante criar algumas condições mínimas. Com a prática será cada vez mais fácil e mais rápido atingir os efeitos desejados e poderemos criar visualizações praticamente em qualquer lugar, sozinhos ou acompanhados, com mais ou menos silêncio.

Para começar precisamos de roupa confortável e de um local sossegado.

Fechamos os olhos, respiramos tranquilamente e enquanto respiramos percorremos o nosso  corpo mentalmente para identificarmos zonas de tensão muscular... e relaxamos esses músculos, continuando a respirar calmamente...

E começamos a usar os nossos sentidos para imaginar sensações agradáveis e relaxantes.

Por exemplo, podemos imaginar que estamos num bosque com bonitas árvores, podemos ver o verde das árvores, o azul do céu e umas nuvens branquinhas...

Podemos acrescentar os sons, como o vento nas árvores, um regato de água a correr, o chilrear dos pássaros, etc...

E podemos continuar por onde a imaginação nos levar, sentido o chão debaixo dos nossos pés, imaginando as nuvens fofinhas, saboreando a água  do regato e sentindo-a escorrer fresca por entre os nossos dedos, etc, etc

Enquanto fazemos isto podemos ir dizendo mentalmente algumas afirmações que nos ajudem a tranquilizar como “sinto-me calmo e relaxado”; “posso sentir-me em paz”; “o meu corpo está quente e tranquilo”, etc.

Algumas considerações de ordem prática:

- Se tivermos dificuldade em imaginar sensações de todos os sentidos podemos focar-nos mais em um ou dois sentidos mais fortes para nós e com o tempo os outros poderão surgir. Alguns de nós somos mais visuais, outros mais auditivos e podemos apostar nisso.

- É importante praticar, praticar, praticar. A frequência com que usamos a visualização ajuda-nos a melhorar e a manter os resultados.

- Podemos acompanhar a visualização com música de fundo se gostarmos e sentirmos que nos ajuda.

- Caso seja mais fácil podemos gravar previamente aquilo que queremos visualizar, fazendo todo o guião para usar durante a visualização.

- É fundamental que nos lembremos de duas coisas: respirar e rir!

E agora, rindo, respirando e imaginando, vamos lá todos relaxar?

Vera Martins

Referências:
The Relaxation & Stress Reduction Workbook, Sixth Edition (2008), Martha Davis, Elizabeth Robbins Eshelman, Mathew McKay, New Harbinger Publications.

Eri Watanabe, Sanae Fukuda and Taro Shirakawa(2005) Effects among healthy subjects of the duration of regularly practicing a guided imagery program, BMC Complementary and Alternative Medicine, 2005, 5:21

sábado, 29 de outubro de 2011

Será que somos o que fazemos?

Ao longo de mais de dez anos de prática profissional  quer em contexto de formação ou selecção, quer em contexto clínico, tenho reparado numa coisa que, apesar de ser comum e “normal”, me tem deixado sempre intrigada. E mais intrigada fico porque os anos continuam a passar e ainda não encontrei uma explicação satisfatória, vou colocando apenas questões...

E mais curioso ainda... dou comigo a fazer o mesmo em vários contextos!

Passo a explicar: quando peço a alguém para se apresentar em contexto induvidual ou de grupo, invariavelmente as pessoas apresentam-se pelo que fazem e não pelo que são. E já experimentei mudar a forma do pedido. Mas seja este formulado em termos de “Pedia-lhe que se apresentasse.” ou “Pedia-lhe que me falasse um pouco de si.” ou qualquer outra versão, as respostas surgem sempre no formato mais funcional do que “faço”.

Assim, a este pedido surgem as tradicionais respostas: “Sou estudante, jogo futebol e toco numa banda”; ou “Sou engenheira, nos tempos livres leio e brinco com os meus filhos.”

Mas será que somos o que fazemos?

O que fazemos será mais importante do que o que somos?

Porque não poderemos dizer simplesmente o que somos? Assim, só, de forma directa e espontânea: “Sou simpática, refilona e honesta” ou “Sou perseverante, às vezes teimoso, mas sou gentil e carinhoso” ou mesmo “Sou bonita, bem-humorada apesar de ser mal-humorada quando acordo”...

Será que não podemos ser, sendo apenas sem ter que apresentar tarefas feitas?

Naturalmente que aquilo que fazemos (a nossa profissão, as nossas actividades) também é  um pouco daquilo que somos mas não me parece que se deva sobrepor às nossas características pessoais e particulares. E, decididamente, nós não somos a nossa profissão, somos muito mais do que isso!

No entanto, tenho colocado a hipótese de que esta moda decorra de uma lógica “darwiniana”, constituindo uma estratégia de sobrevivência: “Para sobreviver tenho que dizer o que o mundo quer ouvir. E o mundo quer ouvir o que eu faço e não quem eu sou”. Portanto, para nos adaptarmos fazemos aquilo que é esperado e valorizado... dizer o que fazemos!

Ora pensemos na nossa reacção se alguém se apresentasse de outra forma... como reagiríamos a um “Boa tarde, sou o António, sou simpático, comunicativo mas rabugento quando tenho fome”?

E enfim, se a lógica adaptativa funciona continuaremos a apresentar-nos através do que fazemos. No entanto, fico a pensar no risco que podemos correr de nos esquecermos de quem somos...

Para relembrarmos gostava de lançar um desafio: que cada um de nós tente falar de si, apresentando-se com ênfase naquilo que é e não naquilo que faz. Isso mesmo, as nossas características pessoais e específicas, aquelas que fazem de nós quem somos!

Eu começo: Sou uma pessoa curiosa, faladora, teimosita e refilona... era bom que fossem só virtudes :)

Quem se segue?

Vera Martins

veramartins.psicologia@gmail.com