Ao longo de mais de dez anos de prática profissional quer em contexto de formação ou selecção, quer em contexto clínico, tenho reparado numa coisa que, apesar de ser comum e “normal”, me tem deixado sempre intrigada. E mais intrigada fico porque os anos continuam a passar e ainda não encontrei uma explicação satisfatória, vou colocando apenas questões...
E mais curioso ainda... dou comigo a fazer o mesmo em vários contextos!
Passo a explicar: quando peço a alguém para se apresentar em contexto induvidual ou de grupo, invariavelmente as pessoas apresentam-se pelo que fazem e não pelo que são. E já experimentei mudar a forma do pedido. Mas seja este formulado em termos de “Pedia-lhe que se apresentasse.” ou “Pedia-lhe que me falasse um pouco de si.” ou qualquer outra versão, as respostas surgem sempre no formato mais funcional do que “faço”.
Assim, a este pedido surgem as tradicionais respostas: “Sou estudante, jogo futebol e toco numa banda”; ou “Sou engenheira, nos tempos livres leio e brinco com os meus filhos.”
Mas será que somos o que fazemos?
O que fazemos será mais importante do que o que somos?
Porque não poderemos dizer simplesmente o que somos? Assim, só, de forma directa e espontânea: “Sou simpática, refilona e honesta” ou “Sou perseverante, às vezes teimoso, mas sou gentil e carinhoso” ou mesmo “Sou bonita, bem-humorada apesar de ser mal-humorada quando acordo”...
Será que não podemos ser, sendo apenas sem ter que apresentar tarefas feitas?
Naturalmente que aquilo que fazemos (a nossa profissão, as nossas actividades) também é um pouco daquilo que somos mas não me parece que se deva sobrepor às nossas características pessoais e particulares. E, decididamente, nós não somos a nossa profissão, somos muito mais do que isso!
No entanto, tenho colocado a hipótese de que esta moda decorra de uma lógica “darwiniana”, constituindo uma estratégia de sobrevivência: “Para sobreviver tenho que dizer o que o mundo quer ouvir. E o mundo quer ouvir o que eu faço e não quem eu sou”. Portanto, para nos adaptarmos fazemos aquilo que é esperado e valorizado... dizer o que fazemos!
Ora pensemos na nossa reacção se alguém se apresentasse de outra forma... como reagiríamos a um “Boa tarde, sou o António, sou simpático, comunicativo mas rabugento quando tenho fome”?
E enfim, se a lógica adaptativa funciona continuaremos a apresentar-nos através do que fazemos. No entanto, fico a pensar no risco que podemos correr de nos esquecermos de quem somos...
Para relembrarmos gostava de lançar um desafio: que cada um de nós tente falar de si, apresentando-se com ênfase naquilo que é e não naquilo que faz. Isso mesmo, as nossas características pessoais e específicas, aquelas que fazem de nós quem somos!
Eu começo: Sou uma pessoa curiosa, faladora, teimosita e refilona... era bom que fossem só virtudes :)
Quem se segue?
Vera Martins
veramartins.psicologia@gmail.com
E mais curioso ainda... dou comigo a fazer o mesmo em vários contextos!
Passo a explicar: quando peço a alguém para se apresentar em contexto induvidual ou de grupo, invariavelmente as pessoas apresentam-se pelo que fazem e não pelo que são. E já experimentei mudar a forma do pedido. Mas seja este formulado em termos de “Pedia-lhe que se apresentasse.” ou “Pedia-lhe que me falasse um pouco de si.” ou qualquer outra versão, as respostas surgem sempre no formato mais funcional do que “faço”.
Assim, a este pedido surgem as tradicionais respostas: “Sou estudante, jogo futebol e toco numa banda”; ou “Sou engenheira, nos tempos livres leio e brinco com os meus filhos.”
Mas será que somos o que fazemos?
O que fazemos será mais importante do que o que somos?
Porque não poderemos dizer simplesmente o que somos? Assim, só, de forma directa e espontânea: “Sou simpática, refilona e honesta” ou “Sou perseverante, às vezes teimoso, mas sou gentil e carinhoso” ou mesmo “Sou bonita, bem-humorada apesar de ser mal-humorada quando acordo”...
Será que não podemos ser, sendo apenas sem ter que apresentar tarefas feitas?
Naturalmente que aquilo que fazemos (a nossa profissão, as nossas actividades) também é um pouco daquilo que somos mas não me parece que se deva sobrepor às nossas características pessoais e particulares. E, decididamente, nós não somos a nossa profissão, somos muito mais do que isso!
No entanto, tenho colocado a hipótese de que esta moda decorra de uma lógica “darwiniana”, constituindo uma estratégia de sobrevivência: “Para sobreviver tenho que dizer o que o mundo quer ouvir. E o mundo quer ouvir o que eu faço e não quem eu sou”. Portanto, para nos adaptarmos fazemos aquilo que é esperado e valorizado... dizer o que fazemos!
Ora pensemos na nossa reacção se alguém se apresentasse de outra forma... como reagiríamos a um “Boa tarde, sou o António, sou simpático, comunicativo mas rabugento quando tenho fome”?
E enfim, se a lógica adaptativa funciona continuaremos a apresentar-nos através do que fazemos. No entanto, fico a pensar no risco que podemos correr de nos esquecermos de quem somos...
Para relembrarmos gostava de lançar um desafio: que cada um de nós tente falar de si, apresentando-se com ênfase naquilo que é e não naquilo que faz. Isso mesmo, as nossas características pessoais e específicas, aquelas que fazem de nós quem somos!
Eu começo: Sou uma pessoa curiosa, faladora, teimosita e refilona... era bom que fossem só virtudes :)
Quem se segue?
Vera Martins
veramartins.psicologia@gmail.com