quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Ano Novo - O Lobo Frontal também pode ir ao ginásio!

Não sou particularmente apreciadora desta quadra festiva em si, embora adore bolo-rei e outras coisas boas que só se comem no Natal mas terminado o Natal, acabo sempre por ficar com um sentimento de esperança e alegria...

É que parece que o Natal e o Ano Novo vêm fechar um ciclo e, portanto, nesta altura podemos ter a esperança de que ao fechar um ciclo  vamos abrir outro. Acabo por sentir tudo como uma fase de renovação, como se ficasse pronta para nascer de novo!

Esta ideia de renovação chega logo com o Solstício de Inverno pois a seguir a ele começam novamente os dias a aumentar. Ou seja, chegada a maior noite do ano, começamos a caminhar outra vez para dias com mais horas de luz solar. Só este pormenor faz-me logo sentir que a Natureza está a contribuir para os nosso desejos de mudança.

Parece que nestes dias entre o Natal e o Ano Novo andamos  a incubar as mudanças que vamos querer fazer. Como se fosse uma semana para inspirar fundo, fundo, muito, muito ar para depois no Ano Novo estarmos cheios de fôlego para novos projectos, novos amores, novas amizades, novas conquistas e realizações!

Quem não anda na azáfama mental de fazer projectos? O que quero mudar? O que vou fazer de diferente?

Há até quem escreva os seus planos e decisões para o novo ano, sejam muitos ou poucos. Quando ficam escritos é como se se tornassem oficiais e, se não escapam do papel também já não fugimos de os colocar em prática.

E é mesmo isso, se tivesse que escolher palavras para esta época do ano, estas seriam: esperança, renovação, projectos e audácia!

Em geral, são dias em que nos permitimos sentir audazes, empreendedores, cheios de energia, de motivação e de imaginação. Começamos por fazer um balanço do ano e, inevitavelmente, acabamos por nos dedicar mais à planificação do próximo ano do que à avaliação deste. E ainda bem que assim é!

E mesmo quando nos dizem: “Não adianta fazer planos de ano novo porque dos planos que fiz o ano passado não pus nada em prática”, isso não nos interessa lá muito, agora é “outro” ano, já não é do ano passado que se trata.

Não é por acaso que o que nos distingue dos outros animais é o facto de sermos dotados de lobo frontal. Esta fantástica parte que a Natureza resolveu acrescentar ao nosso cérebro torna-nos capazes de nos projectarmos no futuro e fazer planos. Este sim, foi um verdadeiro presente, um dos melhores.

Esta dádiva chamada capacidade de se projectar no futuro permite ao ser humano desenvolver-se no sentido de fazer mais e melhor da próxima vez, usando o que aprendeu para conceber melhores estratégias para os seus projectos futuros.

A proximidade do Ano Novo é uma época por excelência para exercitarmos o nosso lobo frontal, o cérebro agradece e de certeza que o Mundo também.

Por isso, nestes dias que restam, aproveite para por o lobo frontal no ginásio e só o deixe sair de lá quando já estiver bem musculado!

Desejo-lhe um fim de ano com muitos e bons projectos e um novo ano cheio de realizações!

Vera Martins

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Como desfrutar do Natal mesmo para quem o detesta


O Natal é uma festa para todos os gostos: para os que gostam muito, pouco e para os que não gostam nada e nem pouco mais ou menos!


Existem variadíssimas razões para todos os casos, mas com ele à porta o mais importante não é esgrimir razões, é mesmo abrir o leque de alternativas para que o Natal possa ser desfrutado por quem gosta e até por quem não gosta.

É que ano após ano, venho sentindo que mesmo quem gosta do Natal muitas vezes usufrui pouco da data em si. Não há altura do ano em que veja as pessoas mais stressadas e cansadas do que no Natal.

Quando se fala em Natal, fala-se dos stress das prendas, dos sucessivos jantares e almoços (de trabalho, de amigos, de afilhados,de primos, de..., de...),, da canseira das horas passadas na cozinha, do trânsito que fica infernal, etc, etc, todos conhecemos estes cenários.

O que acontece muitas vezes é que entre o stress do “antes” e do “depois”, escapa-nos o “durante”. É que o momento presente pode ser o verdadeiro presente de Natal. E há coisas que podem ser agradáveis até mesmo para quem não gosta do Natal. Sejamos honestos, mesmo quem não gosta desta época, acaba sempre por “levar” com ela de qualquer forma, tal é a força da cultura e dos hábitos de um povo.

Então, já que ficamos todos submersos por esta época, a ideia é que quem gosta possa desfrutar melhor dela e que quem não gosta possa passar menos mal e, porque não, com alguma satisfação, já que não há grande  escapatória.

Se olharmos para o Natal de forma mais objectiva o que temos?

Música - É uma forma de expressão e de arte apreciada pela maioria das pessoas. Se assim é e a apreciamos todo o ano, aproveitemos esta altura para viver a música, deixarmo-nos embalar e encantar. Cante, encante e dance para que estes dias sejam mais melodiosos!

Luz e Cor - Quem não gosta de ver coisas iluminadas, coloridas e a brilhar? Aprecie as luzes nesta altura, repare bem,  beba luzes e cores e deixe-se enfeitiçar pela magia de ver tudo mais brilhante pelo menos uma vez no ano!

Comidas apetitosas - hum... comer coisas boas, daquelas que nos fazem crescer água na boca é sempre uma delícia. Se não gosta das gulodices próprias do Natal, coma outras, faça a sua ementa e saboreie. É sempre boa altura para nos deliciarmos com coisas que adoramos mas não comemos todos os dias. Aproveite então para, sem pressas e sem excessos, adoçar a boca e temperar a alma com coisas deliciosa!

Afecto - E de sorrisos, miminhos, palavras simpáticas e uma boa conversa, há alguém que não goste? Procure disfrutar nesta altura da companhia das pessoas que mais ama, daquelas com quem gosta mesmo de conversar (nem que seja por telefone), daquelas que se calhar só vê mesmo uma vez por ano e passa os meses a sentir saudades... Nesta data aproveite para dar e receber afecto, partilhar, trocar, mimar e mimar-se! Muito!!!

E então, tudo trocado em miúdos, talvez possamos usufruir um pouco melhor destes dias de Natal. Mesmo não gostando da festa em si, temos dois dias sem trabalhar durante os quais podemos fazer coisas boas, que nos façam sorrir, vibrar e que nos aqueçam a alma!

Vamos lá passar dois dias simpáticos e a desfrutar o melhor da vida?

Vera Martins

domingo, 18 de dezembro de 2011

Três lições valiosas que aprendi com o meu cão

Quando era miúda tive um cão com quem aprendi muito! A sua inteligência, sensibilidade e dedicação continuam a emocionar-me 30 anos depois e acredito que guardarei as suas lições de partilha e afecto até ao fim da minha vida.

O meu Bamby vivia connosco já há uns tempos, quando apareceram no nosso quintal dois gatinhos bebés (mesmo muito bebés). Como a mãe destes dois meninos nunca apareceu foram ficando e fomos cuidando deles. No entanto, o membro da família que mais se dedicou e melhor cuidou dos “seus bebés” foi mesmo o Bamby! Rapidamente percebemos que o Bamby se deitava de lado com toda a tranquilidade para os gatinhos mamarem nas suas tetas!

E acreditem que não estou a fazer confusão, era mesmo um cão que tentava proporcionar uma experiência maternal e afectiva a estes dois gatinhos bebés. Com a naturalidade de quem tinha feito isto toda a vida, o Bamby lá se deitava e ali permanecia com calma enquanto os dois bebés se aninhavam na sua barriga, procuravam as suas tetas minúsculas de cão e chuchavam, sonhando com a teta da sua mãe gata que haviam perdido!

Quando olho para trás e me lembro destas imagens que trago comigo até hoje, dou conta das lições que recebi deste cão maravilhoso, deste companheiro de aventuras e emoções!

Com o meu cão aprendi que:

-  Não há limites para o afecto - Podemos dar e receber afecto independentemente da idade, do sexo, da raça ou, até mesmo, da espécie. O afecto é reparador de relações e crises, além de ser um importante promotor de crescimento e desenvolvimento.

- Não há limites para a generosidade - Na maioria das vezes é  suficiente darmos o que temos desde que o façamos com generosidade genuína. Não é necessário dar a Lua para fazermos os outros felizes, às vezes o pouco que temos para dar pode transformar vidas e representar muito para os outros. Não devemos inibir gestos de generosidade sob pena de perdermos oportunidades de contribuir para grandes mudanças.

- Todos saem a ganhar quando aceitamos as diferenças - mais uma vez, independentemente da idade, do sexo, da espécie ou da raça, as diferenças são enriquecedoras e têm o poder de promover relações sólidas, de boa qualidade,  aproveitando e multiplicando as qualidades de todos.

Fico a pensar nas capacidades inquestionáveis dos nossos amigos de quatro patas e de como todos temos a aprender com todos. Não tenho dúvidas de que partilhar a vida com os que são diferentes de nós (animais ou humanos) enriquece a existência, promove a felicidade e torna tudo muito mais fácil!

Ainda tem dúvidas de que o afecto move montanhas e é o melhor antídoto contra a crise?

Vera Martins
www.veramartins-psicologia.com

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Sobre as dádivas e o acto de dar

Nesta altura em que o Natal se aproxima a passos largos muito se fala em dar: “Não sei o que vou dar aos meus pais”; “Não vale a pena dar prendas inúteis”; “Gosto muito de dar.”, etc.

E porque este ano a época é especialmente complicada em termos financeiros também ouvimos dizer “Este ano não posso dar prendas a ninguém”.

Fico a pensar nas nossas imensas questões sobre este acto de dar e as inúmeras dúvidas e considerações sobre as dádivas em si. Sabemos bem que as dádivas são extremamente relativas. E são relativas na importância que lhes atribui quem as recebe e quem as oferece. São relativas na necessidade, no preço, no tamanho e na sua (i)materialidade.

É que as dádivas podem não ser materiais e não significa por isso que sejam menos importantes ou menos satisfatórias para quem as recebe.

A música é um excelente exemplo de dádiva imaterial. Podemos por exemplo lembrar-nos dos filmes muito românticos em que um homem apaixonado presenteia a sua amada com uma serenata! Seja tocada e cantada por si próprio ou por outros, uma serenata é um exemplo de dádiva imaterial. E temos também o exemplo tão Português e tão falado ultimamente do Fado como Património Imaterial da Humanidade que afinal de contas é a nossa dádiva à humanidade!

E para além da música, existem mais dádivas imateriais. Daquelas que levamos dentro de nós e que, sem lhes tocar, ficamos tocados por elas, às vezes, uma vida inteira. Como por exemplo um poema belo e cheio de significado que é recitado por alguém ou mesmo um história que contamos a uma criança na hora de dormir para a confortar e ajudar a ter sonhos cor-de-rosa.

E há ainda outras dádivas imateriais. Há uns anos aprendi com uma colega uma dinâmica de grupo que foi baptizada como “Dádivas mentais”. Esta dinâmica consiste precisamente em trocar este tipo de dádivas. As regras são simples: Só valem dádivas mentais e todos os membros do grupo devem dar e receber.

Não imaginam o poder que as dádivas mentais podem ter. O tal poder de tocar alguém e marcar momentos profundos de encontro genuíno. É importante que as pessoas se conheçam minimamente para poderem sentir o que o outro precisa. E assim, nesta troca de dádivas mentais é possível dar ‘coragem’ a alguém que enfrente um desafio, é possível receber de outro a ‘força’ que necessita para terminar uma tarefa, também é possível dar ‘clareza’ para ver melhor uma determinada situação ou mesmo ‘lucidez’ para tomar uma decisão difícil.

Na verdade, as dádivas mentais permitem uma partilha de experiências e emoções que é extremamente enriquecedora para quem recebe mas também para quem dá. Quando uso esta dinâmica de grupo, as pessoas acabam por sentir que ao dar estão simultaneamente a receber. E todo o grupo sente que não só dá e recebe mas sobretudo que, ao escolher de forma personalizada e explicar as dádivas que o outro precisa, há um efeito de multiplicação do seu sentido e do seu potencial efeito.

Através deste exemplo podemos sentir a importância e o poder das relações com os outros. A partilha de emoções, a capacidade de dar e receber, a troca de experiências, o sentimento de pertença e de ser compreendido são pilares essenciais para o nosso bem-estar e a nossa saúde mental.

E não será esta a verdadeira essência de uma dádiva? Partilhar, trocar, multiplicar, emocionar, compreender e ser compreendido...

Os presentes materiais têm concerteza o seu papel e importância na nossa vida, mas também é bom lembrar que há outros presentes que, na sua imaterialidade, tornam também a vida mais colorida e doce.

E que o Natal pode também ser abrilhantado e aquecido com presentes que não precisamos de desembrulhar e que não podemos ver ou tocar mas que nos tocam com toda a sua força, emoção e intensidade.

Vera Martins
www.veramartins-psicologia.com





domingo, 4 de dezembro de 2011

O que poderia ser aquela nuvem?

Há dias estive a contemplar as nuvens. Num daqueles dias em que não choveu mas elas lá andavam pelo céu: fofas, altas e branquinhas.

E lembrei-me de quando era miúda e ficava a adivinhar princesas, castelos, bailarinas, pássaros e árvores nas nuvens que pairavam acima do meu mundo de criança. Um mundo ainda sem grandes preocupações, sem crises, nem política, nem doenças graves, nem outros males e aflições que povoam a vida dos adultos.

E estão os leitores a pensar, e muito bem, que eu não era lá muito original porque, afinal de contas, brincar com as nuvens é entretém habitual de todas as crianças. E, de facto, eu não era muito original, era como as outras crianças que são dotadas de enorme criatividade para brincar, não só com as nuvens mas também com as suas percepções dos objectos e do mundo em geral.

Quando somos crianças uma garrafa pode ser um carro, uma pessoa, um comboio, um avião, servir de apito, de bola, de rolo da massa... E assim vamos vivendo e aprendendo a usar a imaginação e a percepção a nosso favor.

Mas depois há uma fase em que isto começa a mudar... Começamos a perder este à vontade de fazer com as nossas coisas e a nossa vida o que queremos, começamos a usar menos a imaginação a nosso favor e uma nuvem passa a ser só uma nuvem, uma garrafa de água passar a ser só uma garrafa de água...

Nesta nossa nova vida de seres adultos, sérios e preocupados passamos a viver muito mais no concreto, as nossas percepções tendem a ficar mais rígidas e damos muito menos espaço à imaginação.

Bem, e é assim que a crise passa a ser apenas a crise, os problemas de trabalho são apenas problemas, o desemprego é só o desemprego, etc, etc...

Para onde terá ido a nossa capacidade de aprender com o que não temos, reinventar o que temos e criar o que nos faz falta?

Quando temos problemas para resolver costumamos dizer que andamos com nuvens negras a pairar por cima da cabeça. Será que não podemos resgatar as qualidades magníficas da infância e reinterpretar estas nuvens negras?

Os problemas serão só problemas? Podem ser uma oportunidade para algo de novo e diferente? O que posso aprender? Se preciso de algo, o que posso criar para passar a ter o que me falta ou qualquer coisa que se aproxime?

Se eu olhar para a minha nuvem com a mente aberta de uma criança e permitir-me deixar que a minha percepção seja plástica e moldável em vez de ser rígida e fechada, o que poderei obter?

A nossa infância é o melhor estágio que fazemos para desempenharmos melhor o nosso papel de adultos. Mas temos tendência a esquecer-nos de como éramos tão capazes e audazes, do muito que fizemos e da pessoa tão competente que já éramos nessa altura. É certo que mudamos, crescemos, acumulamos muitas experiências que moldam a nossa personalidade, mas há competências que não se perdem... é como andar de bicicleta! Treinámos na infância, muitos de nós deixaram de o fazer, mas se tentarmos agora conseguimos!

Estou convicta de que seremos adultos mais felizes e saudáveis se relembrarmos as competências básicas deste treino de vida chamado infância. Podemos voltar a usar a nosso favor todas as competências que tão bem usámos e treinámos no passado: a imaginação, a criatividade, o sorriso, a flexibilidade para percepcionar o mundo e os outros, a disponibilidade para aprender e a liberdade para crescer.

Sim, sim, é que os adultos também crescem!

Vera Martins