quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sobre a Inteligência Emocional

Muito se tem falado sobre Inteligência Emocional. Este conceito veio oferecer uma outra perspectiva para pensarmos as emoções e, sobretudo, considero que veio ajudar-nos a usá-las de outra forma. Se entendermos melhor o papel que as emoções desempenham na nossa vida e a forma como nos relacionamos com elas podemos usá-las mais a nosso favor em vez de nos deixarmos levar por elas de forma passiva.

As investigações mais recentes já nos permitem perceber que as emoções são decisivas para tomarmos decisões lógicas, como tão bem nos mostrou o neurocientista António Damásio. Outros estudos têm mostrado a importância das emoções para a nossa saúde, para o desempenho no trabalho, para a forma como nos relacionamos connosco próprio e com os outros, como planeamos o nosso futuro, etc.

No seu livro sobre Inteligência Emocional, Daniel Goleman usa um antigo conto japonês para ilustrar como as emoções podem guiar as nossas atitudes e penso que ajuda a mostrar a importância das emoções na nossa vida:

“Certo dia, um aguerrido samurai desafiou um mestre de zen a explicar-lhe os conceitos de Céu e Inferno. Mas o monge respondeu-lhe, trocista: «Não passas de um estúpido e eu não posso perder tempo com gente da tua laia!»

Ofendido na sua honra, o samurai encheu-se de raiva e, puxando da espada, gritou: «Podia matar-te pela tua impertinência!»

«Isto», replicou calmamente o monge, «é o Inferno».

Sobressaltado ao ver a verdade naquilo que o mestre lhe dizia a respeito da fúria que o dominava, o samurai acalmou-se, devolveu a espada à bainha e fez uma vénia, agradecendo ao monge aquela lição.

«E isso», disse o monge, «é o Céu».”
(Página 66)

Podemos andar umas vezes pelo Céu e outras vezes pelo Inferno das nossas emoções, isso caracteriza a (nossa) humanidade, o importante é termos consciência das emoções que nos guiam e, sobretudo, podermos gerir melhor as estrelas do nosso Céu e o calor do nosso Inferno!

Vera Martins

Referência: Inteligência Emocional, Daniel Goleman, 1997, Temas e Debates, Tradução de Mário Dias Correia.

sábado, 26 de novembro de 2011

Conversar com os nossos botões

O nosso diálogo interior é um hábito que nos acompanha quase em permanência. Mas por ser tão frequente e natural já quase nem damos por ele.

Conversar com os nossos botões pode ser extremamente construtivo e enriquecedor mas pode também destruir a nossa auto-confiança e a nossa eficácia para gerir as emoções e mesmo as nossas acções.

A linguagem que usamos quando falamos connosco próprios é poderosa e exerce o seu poder para o bem e para o mal. Temos uma espécie de casamento com os nossos botões, convivemos com eles “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença e até ao fim da nossa vida”!

Mas já que assim é, como podemos usar esta conversa a nosso favor? Como podemos ter uma convivência de enamoramento com os nossos botões?

Primeiro que tudo, precisamos de começar a reparar e, se for preciso, a anotar as coisas que dizemos quando falamos connosco próprios. Precisamos de estar mais à escuta destas conversas com os nossos botões para tomarmos consciência das coisas que vamos dizendo e do seu colorido.

À medida que vamos escutando de forma mais atenta é importante observar os conteúdos, que tipo de conteúdos se repetem, se encontramos padrões, como estes variam e que reacções provocam em nós.

Ficamos mais leves ou pesados? Mais sorridentes ou mais fechados? Mais seguros ou mais inseguros? Mais motivados para agir ou mais bloqueados?

Depois de conhecermos melhor estas conversas, o passo seguinte será perceber se precisamos de mudar o seu conteúdo, mantê-lo ou reforçá-lo.

Se os nossos diálogos interiores forem no sentido de contaminar o nosso bem estar e enfraquecer a nossa auto-confiança é urgente mudar para não deixarmos os nossos botões tristes, pálidos e quebradiços.

Assim, nestas conversas (e noutras!) é importante mudar os seguintes conteúdos:
“”Sou mesmo burro”; “Só faço porcaria”; “Nunca vou conseguir controlar isto”; “Sou sempre a mesma desgraça”

E como se muda?

Os nossos botões preferem conversas mais positivas e, sobretudo, mais construtivas, como por exemplo:
“Sou tão capaz como qualquer outra pessoa”; “Estou sempre a aprender”; Da próxima vez vou sair-me melhor”; “Sou boa pessoa”; “As minhas intenções eram as melhores”.

O importante é que a conversa seja realista mas positiva. Podemos e devemos usar as nossas experiências negativas a nosso favor. Lá diz o ditado “Quem nunca errou nunca fez nada” Todas as experiências podem ser aprendizagens e trampolins para fazermos sempre mais e melhor.

Caso o nosso diálogo interior seja positivo e construtivo há que mantê-lo e reforçá-lo porque os nossos botões gostam de mimos e sorrisos para ficarem fortes e coloridos!

E você, como é que anda a conversar com os seus botões?

Vera Martins
veramartins.psicologia@gmail.com

sábado, 19 de novembro de 2011

Em busca da auto-estima perdida

A auto-estima é um assunto sério, que tem grande impacto na nossa vida, nas nossas relações, no nosso bem-estar e saúde mental em geral. Como tal, é necessário cuidar dela com carinho e perseverança. Há alturas em que podemos começar a sentir a nossa auto-estima mais tremida, ficamos menos seguros das nossas capacidades e o nosso amor próprio parece andar perdido por parte incerta...

Nesses momentos, o que precisamos fazer é mesmo partir em busca da auto-estima perdida!

É bom relembrar de tempos a tempos como podemos providenciar estes cuidados a nós próprios para fazermos uma boa promoção e manutenção da auto-estima. Deixo aqui algumas dicas e cuidados que podem ser úteis e que cada pessoa deve adaptar de forma individualizada e de acordo com o que sente que resulta melhor no seu caso específico:

1 - Cuidado com as comparações - Comparar uma pessoa com outra, na maior parte das vezes, não tem qualquer utilidade e chega a ser bastante cruel e doloroso para a parte que fica do lado negativo da equação;

2 - Fique atento às relações (familiares, amizade, etc) nas quais tem mais obrigações que direitos, alguma coisa pode estar desequilibrada;

3 - Valorize as suas conquistas, realizações, pequenas ou grandes victórias - se for necessário anote-as num papel e leia todos os dias... só para lembrar!

4 - Oiça músicas alegres, que o contagiem de boa disposição.

5 - Mime-se! - Muito!

6 - Contemple coisas bonitas - Há formas mais simples e outras que exigem um pouco mais de esforço. Alguns exemplos, de acordo com os gostos, podem ser paisagens agradáveis, exposições de arte, fotografias bonitas, sites na internet, documentários sobre a natureza, etc. Quando nos sintonizamos com coisas bonitas e agradáveis torna-se mais fácil vermos também as nossas qualidades;

7 - Procure rodear-se de pessoas simpáticas, positivas e calorosas, aquelas que fazem comentários que nos colocam “p’ra cima” e nos fazem bem ao Ego;

8 - Mexa-se! - Caminhar, dançar, pedalar, etc. O exercício físico estimula a produção de endorfinas que nos fazem sentir bem, diminuindo o desconforto e até a dor.

9 - Apanhe Sol - Com conta, peso e medida e com a devida protecção, claro. O Sol tem um efeito muito benéfico no nosso humor e bem estar.

10 - Respire! - Com calma e profundamente!

11 - Sorria, ria, não tenha medo de soltar umas boas gargalhadas! - Quando nos divertimos sentimo-nos melhor, mais novos e mais bonitos!

12 - Arrume! - Qualquer coisa, dependendo da inspiração, do tempo e da necessidade. Não precisa de arrumar toda a casa. Pode ser apenas uma divisão da casa, uma secretária, uma estante ou uma gaveta. Arrumar proporciona uma sensação de organização e de controlo que nos faz sentir bem, eficazes e competentes.

13 - Lembre-se de quem é! - Isto é muito importante! Às vezes digo isto mesmo assim às pessoas que conheço bem e de quem gosto: “Estamos a falar de ti!”. Pode dizê-lo a si mesmo: “Então, estou a falar de mim!”. Se quiser contribuir para a auto-estima de alguém pode dizer isso também a outra pessoa. Já agora, poderá também partilhar as restantes dicas!

Na verdade, tratar da auto-estima é como tratar de uma planta, é preciso regá-la com regularidade, proporcionar-lhe luz suficiente, limpá-la e até falar com ela!

Vera Martins

veramartins.psicologia@gmail.com

sábado, 12 de novembro de 2011

Disse Probortunidade???

Sim, disse mesmo Probortunidade!

Nas minhas andanças pela internet em busca de sites sobre criatividade, encontrei esta palavra que achei fantástica!

Antes de mais, tenho que esclarecer que a tradução é minha. Em Português a palavra não existe mas neste momento de crise precisamos desta palavra e da atitude que lhe está subjacente.

O termo Probortunidade, da palavra original Inglesa “Probortunity”, surgiu devido à dificuldade em determinar a diferença entre um problema e uma oportunidade. Em geral, o uso da palavra problema traz consigo uma conotação negativa. E, como é fácil perceber, a palavra oportunidade, traz consigo uma conotação bastante mais positiva.

Felizmente houve alguém, com vocação para o equilíbrio, que resolveu juntar as duas numa só e criou a palavra Probortunidade. (Pode ver a explicação original em www.brainstorming.co.uk). E ainda bem que alguém nos lembra que nada nesta vida é só preto ou só branco, só doce ou só amargo. E que, pelo meio podemos ter muitas cores e sabores.

Ou seja, uma Probortunidade refere-se a qualquer coisa que queremos transformar e mudar para melhor. Pode ser a palavra que traduz a conhecida e desejada capacidade de “transformar um problema numa oportunidade”.

Pensando bem, um problema pode não ser muito diferente de uma oportunidade. Aquilo que sentimos é que é diferente. Assim, usamos “problema” quando sentimos uma situação como negativa e usamos “oportunidade” quando sentimos uma situação como positiva. A verdade é que acontece com frequência uma mesma situação ser considerada por uns um problema e por outros uma oportunidade. Mas, factualmente, a situação é a mesma.

Então se se trata de uma questão de percepção e avaliação da nossa parte, o que precisamos de fazer é precisamente interrogar a nossa percepção e a avaliação que fazemos de uma situação. E as nossas avaliações tendem a ser muito emocionais...

A ciência e a vida já nos mostram há muitos anos que as crises trazem grandes mudanças e permitem profundas reorganizações. Por isso mesmo, é importante não ignorar todas as Probortunidades que a vida nos oferece!

“Pensamento positivo é a forma como você PENSA um problema. Entusiasmo é a forma como você SENTE um problema. Os dois juntos determinam o que você FAZ com um problema”
Dale Canergie

Vera Martins

sábado, 5 de novembro de 2011

O que é a visualização e como se pratica?

A nossa imaginação é uma ferramenta muito poderosa e podemos usá-la a nosso favor embora, muitas vezes, a usemos contra nós ao visualizar cenários negros e catastróficos para o futuro. E quando fazemos isto sabemos bem que a imaginação consegue ser mais forte que a vontade.

Mas se a imaginação funciona tão bem e até é gratuita porque não usar esta fantástica ferramenta para nos ajudar a reduzir o stress, promovendo sensações de bem-estar e estados de relaxamento?

O que é: A visualização (Guided Imagery em Inglês) é uma técnica que usa a imaginação para criar cenários nos quais podemos sentir sensações agradáveis, proporcionando ao nosso corpo e à nossa mente estados reais de bem-estar.

Como funciona: A visualização  permite ao indivíduo exercer um controlo activo sobre o seu foco de atenção. Em geral, todas as pessoas têm esta capacidade pois a visualização, ao contrário do que a palavra indica em Português, não recorre apenas ao sentido da visão mas também aos outros sentidos. Todos nós já experimentámos a sensação de sonhar acordados, de falarmos sozinhos com os nossos botões, de recordarmos cenas de acontecimentos, etc. Todos estes exemplos ilustram a nossa capacidade de visualização.

Ou seja, a visualização resulta de impressões sensoriais que nós criamos com a ajuda da nossa imaginação. E podemos usá-las de forma consciente e intencional para relaxar o nosso corpo e diminuir os efeitos do stress. Os estudos feitos sobre a visualização mostram claramente que aquilo que imaginamos pode mesmo tornar-se real para o nosso corpo.

Efeitos e benefícios: Além de aumentar o bem-estar, tem mostrado eficácia no tratamento de perturbações relacionadas com o stress, a depressão e a ansiedade, em várias perturbações físicas como dores de cabeça, espasmos musculares,  na gestão da dor crónica e na redução da tensão arterial. Também é utilizada com sucesso  em doentes com cancro, na preparação dos doentes para as cirurgias e na preparação de atletas de competição.

Frequência: Alguns efeitos poderão sentir-se imediatamente e outros poderão necessitar de várias semanas de prática de visualização para se fazerem sentir. O ideal seria praticar diariamente, duas vezes por dia. No entanto, praticar qualquer coisa será melhor do que nada...

Mas então como podemos passar à prática?

No início é importante criar algumas condições mínimas. Com a prática será cada vez mais fácil e mais rápido atingir os efeitos desejados e poderemos criar visualizações praticamente em qualquer lugar, sozinhos ou acompanhados, com mais ou menos silêncio.

Para começar precisamos de roupa confortável e de um local sossegado.

Fechamos os olhos, respiramos tranquilamente e enquanto respiramos percorremos o nosso  corpo mentalmente para identificarmos zonas de tensão muscular... e relaxamos esses músculos, continuando a respirar calmamente...

E começamos a usar os nossos sentidos para imaginar sensações agradáveis e relaxantes.

Por exemplo, podemos imaginar que estamos num bosque com bonitas árvores, podemos ver o verde das árvores, o azul do céu e umas nuvens branquinhas...

Podemos acrescentar os sons, como o vento nas árvores, um regato de água a correr, o chilrear dos pássaros, etc...

E podemos continuar por onde a imaginação nos levar, sentido o chão debaixo dos nossos pés, imaginando as nuvens fofinhas, saboreando a água  do regato e sentindo-a escorrer fresca por entre os nossos dedos, etc, etc

Enquanto fazemos isto podemos ir dizendo mentalmente algumas afirmações que nos ajudem a tranquilizar como “sinto-me calmo e relaxado”; “posso sentir-me em paz”; “o meu corpo está quente e tranquilo”, etc.

Algumas considerações de ordem prática:

- Se tivermos dificuldade em imaginar sensações de todos os sentidos podemos focar-nos mais em um ou dois sentidos mais fortes para nós e com o tempo os outros poderão surgir. Alguns de nós somos mais visuais, outros mais auditivos e podemos apostar nisso.

- É importante praticar, praticar, praticar. A frequência com que usamos a visualização ajuda-nos a melhorar e a manter os resultados.

- Podemos acompanhar a visualização com música de fundo se gostarmos e sentirmos que nos ajuda.

- Caso seja mais fácil podemos gravar previamente aquilo que queremos visualizar, fazendo todo o guião para usar durante a visualização.

- É fundamental que nos lembremos de duas coisas: respirar e rir!

E agora, rindo, respirando e imaginando, vamos lá todos relaxar?

Vera Martins

Referências:
The Relaxation & Stress Reduction Workbook, Sixth Edition (2008), Martha Davis, Elizabeth Robbins Eshelman, Mathew McKay, New Harbinger Publications.

Eri Watanabe, Sanae Fukuda and Taro Shirakawa(2005) Effects among healthy subjects of the duration of regularly practicing a guided imagery program, BMC Complementary and Alternative Medicine, 2005, 5:21