quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

É errado estar errado?


O medo de errar é um medo muito comum. Muitas pessoas têm esta preocupação com a possibilidade de errar, que pode ser sentida com maior ou menor intensidade, mas o que é facto é que, em geral, o medo de errar vai estando presente ao longo da nossa vida.


Em psicoterapia é um dos medos que os pacientes de várias idades mais expressam: medo de fazer algo de errado, medo de dizer algo de errado, medo de fazer a escolha errada. medo de cometer erros nas relações, no trabalho, na educação dos filhos, etc.

Quanto mais me cruzo com este medo tão frequente, na prática clínica mas também nos variados contextos relacionais do dia-a-dia, mais sinto que é preciso desmistificar esta questão.

O que transforma esta questão num problema é o facto de alguém sofrer com isto, tanto mais que se trata de um sofrimento por antecipação. Com a agravante de que, quando o sofrimento é elevado, prejudica o raciocínio e a própria capacidade para agir e ficamos com um cenário complicado:

- Quanto maior o medo de errar, maior a probabilidade de vir a errar mesmo.

Se fosse possível colocar o medo de errar numa ilustração matemática teríamos:

Ansiedade antecipatória + dificuldade de raciocínio + dificuldade de desempenho = maior probabilidade de erro

E se o erro acontecer mesmo, só vamos confirmar que o nosso medo tinha razão de ser e aprendemos para o futuro que é normal ter medo de errar “porque eu já errei no passado e é provável que venha a errar no futuro”... a conhecida “bola de neve” ou, para os gostos mais culinários, a “pescadinha de rabo na boca”:

Mais erro - mais medo
Mais medo - mais erro
Mais erro - ….

Mas então como derreter a bola de neve ou arrancar o rabo da boca (da pescadinha, pois claro) para interromper este ciclo?

1 º Por razões de ordem prática propunha separarmos o medo do “errar” em si -  Eles não têm que andar juntos. Nas primeiras vezes que fazemos alguma coisa não temos medo de a fazer. Antes da 1ª queda não tínhamos medo de andar. O medo é aprendido e é difícil lutar contra ele mas vamos fazer como nas receitas de bolos só que em vez de separar a clara da gema... “separe o medo da acção e reserve” (uma vez que não podemos anular o que sentimos, tentemos manter a ideia nítida de que são 2 coisas separadas e distintas).

2º As avaliações só se podem fazer no final de um processo - o medo resulta da avaliação da experiência anterior e não desta. Mas é fácil confundir a avaliação da anterior com a avaliação da experiência actual.
É bom lembrar que não podemos começar a casa pelo telhado. Portanto, não podemos avaliar a nossa acção antes de tentar.
Embora pensemos no telhado, deixamo-lo para o fim. Da mesma forma, devemos deixar as avaliações também para o fim e não nos criticarmos ainda antes de fazer algo. Não podemos saber por antecipação que vamos errar...

3º “Quem nunca errou, nunca fez nada” - Os ditados populares, além da sabedoria que encerram ainda têm o mérito de serem auto-explicativos!

4º A errar também se aprende - A Psicologia da Aprendizagem reconhece mesmo a chamada “aprendizagem por tentativa e erro” como um processo de aprendizagem válido e, em alguns contextos, é mesmo o mais adequado para agir e aprender. Eu atrevo-me a dizer que no contexto de vida “normal” é mesmo o que melhor nos serve na maioria das circunstâncias, uma vez que  não dominamos totalmente a vida e todas as suas variáveis...

5º Por fim, só é possível errar depois de tentar, fazer, dizer, escolher, etc - Se tentámos, fizemos, dissemos, escolhemos e ainda não acertámos... na maioria dos casos, isso apenas quer dizer que precisamos de tentar, fazer, dizer, escolher outra vez!

E afinal pergunto: Mas então é errado estar errado?

Vera Martins
www.veramartins-psicologia.com

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