quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Acha mesmo que a curiosidade matou o gato?

Quem já leu textos meus já vai sabendo que gosto de provérbios mas, como em tudo, abro uma excepção para alguns provérbios e este é um deles: “A curiosidade matou o gato” ou, na versão mais moderna, "Curiosidade mata". É que tenho logo vontade de responder: A curiosidade não mata ninguém!

Curiosa que sou (e, pasme-se, continuo viva!), fui à procura da origem deste ditado e descobri que na Europa, durante a Idade Média as pessoas acreditavam que os gatos pretos traziam má sorte e, por isso, montavam armadilhas. Os pobres gatos, andavam nas suas explorações e sucumbiam às armadilhas. Portanto, fica claro que os gatos eram mortos por armadilhas...

A curiosidade é das características mais extraordinárias que um ser humano de qualquer idade pode ter. E digo de qualquer idade porque, com frequência, a curiosidade é associada às crianças. E é verdade que as crianças são fantásticas por muitas coisas, sendo a curiosidade uma das suas características mais valiosas, um verdadeiro investimento para o futuro. Mas a curiosidade é importante em todas as idades.

Alimentar a nossa curiosidade constitui-se para nós como uma espécie de seguro de vida mas, muitas vezes, ainda não olhamos para a curiosidade com um olhar positivo. Tantas vezes criticamos e até proibimos a curiosidade, sobretudo nos mais novos. Talvez porque às vezes se confunde curiosidade com “fofoca” ou “cusquice”.

Mas há que distinguir o que é curiosidade das outras formas de questionamento ou intrusão da vida alheia. No entanto, também pode ser saudável e enriquecedor termos curiosidade sobre a vida alheia... não podemos generalizar e partir sempre do princípio que a curiosidade é prejudicial ou que tem consequências negativas.

Como podemos distinguir? Em geral a curiosidade não prejudica ninguém, não contém juízos de valor e gera conhecimento.

Encontrei um artigo de Bruce D. Perry, da revista Early Childhood Today, que apresenta um esquema resumido sobre a curiosidade. Traduzi o seu esquema para partilhar aqui por ter sentido que ilustra de forma simples como a curiosidade, além de conhecimento, pode gerar valor, crescimento, emoções positivas e fazer de nós pessoas melhores. Lembra-se da ideia do seguro de vida? Veja lá se a curiosidade não é uma espécie de seguro de vida emocional...

O médico Bruce D. Perry diz-nos que a curiosidade é o “combustível para o desenvolvimento” e explica porquê:

Curiosidade resulta em Exploração
Exploração resulta em Descoberta
Descoberta resulta em Prazer
Prazer resulta em Repetição
Repetição resulta em Mestria
Mestria resulta em Novas Competências
Novas Competências resultam em Confiança
Confiança resulta em Auto-Estima
Auto-Estima resulta em Sentimento de Segurança
Sentimento de Segurança resulta em Mais Exploração

Sendo assim, para promover o desenvolvimento emocional e cognitivo e para bem de todos é mesmo importante sermos curiosos!

Gostava de dizer:

A quem não é curioso, que ainda está a tempo de ser.

A quem já é curioso, que pode ser ainda mais curioso.

A todos nós, que educamos crianças, que...
… se alguma coisa matou o gato, não foi a curiosidade!


Vera Martins
www.veramartins-psicologia.com

Referências:
http://www.scholastic.com/teachers/article/emotional-development-curiosity-fuel-development

http://pt.wikipedia.org/wiki/A_curiosidade_matou_o_gato

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