domingo, 23 de outubro de 2011

O tempo, a sabedoria e a vida

Há dias li o prefácio de um livro no qual o autor explicava que, para fazer a pesquisa que esteve na base do seu livro, tinha pedido que lhe enviassem o nome de alguém mais velho que considerassem ser uma pessoa com sabedoria e que tivesse alguma lição importante a ensinar sobre a vida. O autor foi surpreendido com o nome de mil pessoas que foram consideradas por outras como pessoas que preenchiam os dois requisitos: serem mais velhos e possuírem sabedoria sobre a vida para poderem ensinar algo importante.

Ao ler isto fiquei a pensar nestes critérios de selecção e em como são radicalmente contrários aos critérios de selecção para um emprego... Pois, é que no mundo do trabalho os requisitos principais são: juventude e experiência naquele trabalho. Basta olharmos para a maioria dos anúncios de emprego para constatarmos rapidamente que a idade não é um posto e a experiência é exigida em moldes difíceis de satisfazer porque quanto mais jovens somos necessariamente menos experiência temos. Mas, mais inquietante ainda é a desvalorização que existe hoje em dia dos quilómetros já palmilhados na estrada da vida.

E tudo isto me faz pensar nos recursos necessários para viver e sobreviver em épocas de crise (como esta), nas quais os empregos escasseiam e todo o cenário parece trocar-nos as voltas à existência...

A quem recorremos em tempos de crise? De quem esperamos ouvir sábias palavras? A quem perguntamos como fizeram para superar fases como esta que atravessamos?

Nestas alturas somos confrontados com a necessidade de valorizar a experiência que não se valoriza no mercado de trabalho: a experiência de vida, os tais quilómetros andados a mais. Em momentos de aflição queremos ouvir “a voz da experiência”, na esperança de “beber” as suas histórias de vida, de poder seguir os seus exemplos e aprender com eles.

Não pretendo fazer a apologia dos mais velhos nem desvalorizar a competência dos mais novos, mas é importante chamar a atenção para o facto de que todos sem excepção temos (ou deveríamos ter) lugar numa sociedade que se quer desenvolvida. Todas as pessoas, de todas as idades, com experiências e contributos diferentes, têm um papel a desempenhar.

Em momento nenhum podemos dar-nos ao luxo de “deitar fora” as pessoas que partilham connosco a vida e que percorrem um caminho com um objectivo último comum a todos: ser feliz! E seria bom que pudéssemos percorrer esse caminho sem medo do calendário e da passagem dos anos.

Todos nós já fomos ou somos crianças, somos ou seremos adultos e todos caminhamos para a velhice ou estamos já a contemplá-la. A única coisa que nos distingue é o momento em que passamos por estas estapas e ainda bem que assim é. O tempo é um organizador das gerações e, consequentemente, é também um organizador da nossa vida afectiva e social.

Este desfasamento no tempo permite-nos desempenhar os nossos papéis de forma estruturada e coerente: não podemos ser crianças ao mesmo tempo que os nossos filhos nem podemos ser velhos ao mesmo tempo que os nossos avós! E tão bom que é ser neto e filho, e mãe e pai, e avó e avô... E que maravilha aprender e contar com todos!

Agradeço ao tempo, à sabedoria e à vida!

Vera Martins

Nota: O prefácio que refiro é do livro The five secrets you must discover before you die, John Izzo, Berrett-Koehler Publishers, Inc.

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