segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ser e estar não são duas faces da mesma moeda


A linguagem que utilizamos é muito importante e mais poderosa do que pensamos. O significado que atribuímos às nossas emoções e pensamentos condiciona em grande medida as nossas relações com os outros e a forma como olhamos para nós e para o futuro.

É tão comum dizermos: “Sou um desastre”; “Sou mesmo azarado”; “Sou tão burra”, etc... sabemos bem as coisas que dizemos de nós próprios...

E fazemos isso também com os outros: “O meu filho é tão distraído”; “Aquele funcionário é tão incompetente”; “És mesmo parvo” e outros tantos exemplos sem fim.

Porque havemos de impor a nós e aos outros sentenças tão duras e peremptórias, como se algo na vida fosse tão permanente e imutável?

Se experimentarmos fazer uma coisa tão simples como substituir o verbo “ser” pelo verbo “estar” vamos perceber que estar desastrado um dia não faz de ninguém um desastre para sempre. O estar infeliz não tem que condicionar a personalidade de alguém toda a vida. O facto de uma pessoa estar mais distraída num momento não faz dessa pessoa um habitante eterno de outro planeta.... e afinal de contas, todos temos direito a estar (e não usei ser!) extra-terrestre por um dia.

Já reparou então no poder do verbo “ser”? E como a existência fica mais fácil e mais flexível com o verbo “estar”? E já agora, fica também mais realista, porque tudo muda!

E, se pensarmos bem, para os adjectivos positivos já não fazemos bem a mesma coisa... o mais comum é dizermos “”Estás muito bonita” e não “És muito bonita” ou “Estás muito feliz” e não “És muito feliz”.

A verdade é que esta distinção não se verifica em todas as línguas, por exemplo em Inglês e em Francês o verbo é o mesmo para expressar “ser” e “estar” (Em Inglês o verbo “to be”, em Francês o verbo “Être”).

Fico a pensar onde teremos aprendido que “somos” quando o atributo é negativo e  (só) “estamos” quando o atributo é positivo...

Diz o ditado que “o que é bom acaba depressa” e eu gostaria de lembrar do outro ditado que também diz “Não há mal que sempre dure...” (...”nem bem que nunca se acabe” - mas esta parte agora não dá muito jeito! Apaguem isto só por um bocadinho, ok?).

Sendo assim, a minha proposta é fazermos todos uma grande desarrumação na Língua Portuguesa e invertermos isto tudo para sermos todos mais felizes e não estarmos zangados com a vida!


Vera Martins

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